top of page
Foto do escritorMaristela Scheuer Deves

Vampiros, história e muito bom humor




Com a pandemia, neste ano não pude ir a lançamentos de livros, nem a feiras do livro presenciais. Assim, resolvi, nas minhas leituras, privilegiar aqueles livros que adquiri ou ganhei há muito tempo mas, por um motivo ou outro, tiveram a leitura postergada. E assim está sendo, com raras exceções (como o recém-lançado Mecanosfera / Monoambiente, do qual falei em post anterior). O resultado tem sido boas surpresas, e a pergunta de por que não os havia lido antes.


Um desses livros é O Vampiro que Descobriu o Brasil (Ática, 120 páginas), de Ivan Jaf. Embora classificada como literatura infanto-juvenil, a obra é uma leitura deliciosa para qualquer idade – como devem ser os bons livros. Com leveza, criatividade e bom humor, o autor faz o leitor seguir os passos do português Antônio Brás, transformado em vampiro poucos dias antes da partida da esquadra de Pedro Álvares Cabral, que descobriria o Brasil. À caça daquele que o mordeu, ele vem parar na nova terra, onde acompanha o passar das décadas e dos séculos, as mudanças que ocorrem e também aquilo que permanece (e algumas coisas, nós sabemos, nunca mudam).


As dificuldades da viagem, o avistamento da nova terra, a primeira missa, o surgimento das cidades, as disputas políticas, as revoluções, os conchavos, os golpes, tudo isso é material para a narrativa de Jaf, autor carioca que também tem títulos na coleção Vaga-Lume. O texto, como dito acima, é leve e fluido, e contém alguns momentos hilariantes, como aquele em que a personagem descobre ter transformado, sem querer, a sua mula em uma mula-vampira, ou até mesmo a frase de abertura, em que Antônio, olhando para seus 500 anos de imortalidade, avalia que esta não vale “uma lasca de bacalhau frito no azeite” (afinal, vampiros não comem, e ele quer muito poder saborear antigas e novas delícias).


A trama reúne aventura, mistério, história, humor, crítica social e política, entre outros elementos – ou seja, agrada aos leitores dos mais variados gêneros, tanto aqueles que só querem uma história bem contada quanto aqueles que buscam algo mais. Falando em algo mais, ficar imaginando quais personagens reais da história brasileira poderiam ser vampiros dá um sabor ainda maior à leitura. Reconhecer os padrões da trajetória nacional, que talvez nunca tenhamos percebido embora estejam bem à nossa frente, é outro prazer proporcionado pelo livro.


Na edição que eu tenho, de 2007 (o texto original é de 1999), as ilustrações de Marcelo Campos e projeto gráfico e preto e vermelho complementam a narrativa com perfeição, assim como os hiperlinks para personagens, eventos ou acontecimentos históricos. Destaque ainda para os “extras” ao final do livro, com textos sobre vampiros e outras curiosidades correlatas.


Se você ainda não leu, leia. Você nunca mais vai encarar nossa história com os mesmos olhos.




2 visualizações0 comentário

Comments


bottom of page