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Foto do escritorMaristela Scheuer Deves

"Mecanosfera / Monoambiente": entre a ficção, a realidade e a teoria



Início de 2019. Um professor universitário perde o emprego. Bolsas de estudo começam a ser cortadas sob a desculpa de contingenciamento de gastos. Escândalos de currículos fraudados explodem em altos escalões governamentais. Poderia ser vida real, mas trata-se de ficção. Ou não. Durante a leitura de Mecanosfera / Monoambiente (Zouk, 120 páginas), de Fabrício Silveira, a dúvida persiste. Uma nota ao final esclarece: trata-se de uma “ficção teórica”.


Também se poderia catalogá-lo, talvez, de autoficção, um tipo de narrativa que, segundo o teórico Serge Doubrovsky, constrói-se como uma “ficção, de fatos e acontecimentos reais”. Qualquer pessoa tenha alguma vivência no meio acadêmico vai reconhecer diversas situações de pronto. Entre elas, a obsessão pela métrica, por uma produção por vezes mais quantitativa do que qualitativa (o que parece ter se intensificado nos últimos tempos).


Mas Mecanosfera / Monoambiente não transita apenas pelas salas de aula e corredores de universidades. Isso porque Fabiano, o protagonista, não é “só” um professor-pesquisador temporariamente desempregado: ele é um marido, um homem de quarenta e poucos anos, uma pessoa comum que gosta de ler mas também de frequentar bares, curtir a vida noturna e encontrar os amigos. E de filosofar um pouco, é verdade.


Essa “filosofia”, ou mais precisamente essa teorização sobre o que se passa com ele e com o país, intensifica-se quando ele passa a integrar um grupo de estudos, o que o faz trazer para seus devaneios conceitos dos livros que ele (Fabiano, a personagem, ou Fabrício, o autor?) está lendo, como Ciclonopedia, de Reza Negarestani, e Realismo Capitalista, de Mark Fisher. Aliás, ao final do livro é possível conferir uma lista de obras referidas durante a narrativa.


Em meio a tudo isso, o leitor vai se perguntando se Fabiano conseguirá manter a bolsa de pós-doutorado; por que ele costuma gravar conversas; como se resolverão alguns oequenos dramas paralelos com seus amigos, que também passamos a conhecer; enfim, como essa história terminará. Aqui, fica um pequeno spoiler: não leia Mecanosfera / Monoambiente em buscas de respostas prontas – esse é um livro escrito para levantar perguntas.




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