Talvez você nunca tenha pensado em colecionar palavras, chapéus ou hipopótamos-anões da Libéria. Mesmo assim, é impossível não ser seduzido por Tochtli, o narrador-protagonista de Festa no Covil (Companhia das Letras, 88 págs.), do escritor mexicano Juan Pablo Villalobos. E embora a personagem principal seja uma criança, não se engane: esse não é um livro infanto-juvenil, e sim uma novela voltada ao público adulto e que desvenda, sob o olhar infantil, a solidão e a crueldade de um microcosmo criminoso.
Isso porque o precoce, inteligente, mas por vezes ingênuo Tochtli é filho de um chefão de tráfico, Yolcault. Vivendo num mundo fechado, com contato com poucas pessoas – a maioria delas criminosos como o pai –, o menino passa seus dias observando quem o cerca, lendo o dicionário em busca de novas palavras e fazendo observações ora cômicas, ora cruéis sobre o que observa, vive e sente, incluindo a violência.
O olhar ao mesmo tempo acurado e naïf mistura-se ao palavreado por vezes pomposo (afinal, Tochtli é quem narra, e ele gosta de usar as novas palavras que descobre) e aos caprichos de príncipe do tráfico, quase sempre satisfeitos por seu pai – que, ao mesmo tempo em que o mima, faz questão de que ele seja durão e “macho”.
Para usar uma das palavras preferidas de Tochtli, pode-se dizer que o livro, embora curto, é fulminante.
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