Um grupo de amigos se diverte jogando jogos de tabuleiro, até que o gato da casa entra arrastando algo atrás de si e a normalidade é quebrada. Isso porque não se trata, como os jogadores pensam inicialmente, de um passarinho morto, mas de algo bem mais macabro: dedos humanos. É assim, partindo de cenas cotidianas, que nascem o suspense e o horror dos onze contos que integram o livro A Casa das Sombras (Benvirá, 272 págs.), de Patricia Highsmith.
Conhecida principalmente por seus romances, como O Talentoso Ripley, a escritora norte-americana mostra também nas narrativas curtas a sua maestria em construir histórias com uma tensão crescente. A presença de personagens complexos, que se revelam aos poucos, é outra especialidade da autora que igualmente se faz presentes no livro.
Além do gato e de seu achado funesto, outros pavores nascidos não de monstros ou do sobrenatural, mas de coisas banais, assombram as páginas: o desconforto com a presença de um colega não muito querido; a desconcertante ideia de um saber primitivo; a descoberta de uma fraude contra si perpetrada por alguém querido; o resgate de uma náufraga elevando a tensão em um navio; cantadas inconvenientes de um voyeur; uma típica casa abandonada repleta de histórias...
A escrita precisa, os detalhes significativos, o aprofundamento psicológico das personagens, tudo isso contribui para tornar a leitura ainda mais instigante – apesar do desconforto, ou talvez do medo, que por vezes se instala no leitor, ao perceber que a perversidade pode se manifestar em coisas que vivemos no dia a dia.
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