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Foto do escritorMaristela Scheuer Deves

Guerra, sobrevivência e aventura em “Cidade de Ladrões”




Certa vez, conta o escritor e roteirista norte-americano David Benioff na abertura de Cidade de Ladrões (Objetiva, 364 págs.), ele precisava escrever um ensaio sobre sua vida. Como achava-a tediosa, resolveu pedir que seu avô, imigrante russo, lhe contasse suas memórias da Segunda Guerra Mundial. O resultado foi esse livro, e embora o leitor possa ter lá suas dúvidas sobre o que é ou não real – afinal, o próprio avô, Lev, diz a David para preencher as lacunas inventando –, ainda assim a narrativa consegue nos transportar para o rigoroso inverno russo, na cidade sitiada de Leningrado, onde o frio, a fome e as bombas apavoram adultos e crianças.


Não se trata, porém, de uma história de guerra convencional. Lev não é um soldado: é um adolescente de 17 anos que se recusa a deixar a cidade com a mãe durante o cerco. Certa noite, ele e alguns amigos veem o corpo de um paraquedista alemão cair do céu. Curiosos e na expectativa de encontrar algo no corpo que fosse útil ou ajudasse a matar a fome, correm até o cadáver, violando o toque de recolher. A polícia aparece, todos fogem, mas Lev é apanhado.


O jovem tem certeza de que será executado, pois essa era a punição para quase qualquer infração. No entanto – e é aí que começa a verdadeira história, mistura de drama e aventura –, ele e outro garoto recebem uma missão inusitada: conseguir uma dúzia de ovos para o bolo de casamento da filha de um alto oficial. Seria simples em outros tempos, mas em plena guerra e com a cidade cercada pelos nazistas é algo impossível – em alguns dias, ele e os amigos dividiam um único pãozinho e uma cebola entre quatro.


Entretanto, como essa é a única alternativa à punição máxima, Lev e o outro rapaz, Kolya, partem em uma jornada sem muitas esperanças. No caminho, topam com traficantes de carne humana, cachorros-bomba, uma garota guerrilheira e, claro, soldados alemães. Há perigos, luta, morte – não é spoiler, a frase de abertura já entrega, quando o autor escreve “Meu avô, que sabia lutar com facas, matou dois alemães antes de completar dezoito anos” –, e também há amizade e, talvez, uma possibilidade de amor.


Afora as páginas introdutórias, o romance todo é narrado em primeira pessoa por Lev. Mais uma vez, se o que estamos lendo é ou não verdade, não importa: essa possibilidade é só um tempero a mais.


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