Ontem, falei por aqui das “grandes damas” do romance policial no século 20. Hoje, vou trazer alguns nomes mais recentes dessa literatura – com a ressalva de que há muitos outros mais, o objetivo aqui é apenas dar uma amostra do que as escritoras mulheres produzem no gênero.
Primeiro, chamo a atenção para a norueguesa Anne Holt – integrante da “safra” de autores escandinavos que começaram a ser publicados no Brasil nos últimos anos. Em 1222 (Fundamento, 304 págs.), um grupo de 269 pessoas fica isolado em um antigo hotel a 1222 metros de altitude (daí o título do livro), após o descarrilamento do trem em que viajavam, durante uma nevasca. Um assassinato acontece, e, sem perspectiva de socorro externo, caberá à ex-policial Hanne – analítica, sarcástica, antissocial e presa a uma cadeira de rodas – solucionar o caso. A narrativa em primeira pessoa, que dá ao leitor acesso apenas ao ponto de vista da protagonista, ajuda a construir o ritmo da história. Uma curiosidade extra-livro é que a autora já foi ministra da Justiça e Segurança Pública em seu país.
Vindo para as Américas, temos três escritoras de estilos bem diferentes. Começo pela mais conhecida delas, a chilena Isabel Allende – embora poucos a associem à literatura policial, em 2014 ela lançou um livro nesse gênero, O Jogo de Ripper (Bertrand Brasil, 490 págs.). Na trama, a adolescente Amanda diverte-se participando de um jogo de RPG online com pessoas de outros países, cujo objetivo é desvendar crimes. Quando uma série de mortes reais começa a acontecer em sua cidade, ela e os outros se envolvem na investigação, colocando-se em perigo. Vale dizer que a trama se passa na Califórnia, nos Estados Unidos, onde a autora está radicada há várias décadas.
A também chilena Marcela Serrano, autora de Nossa Senhora da Solidão (Record, 176 págs.), traça uma trama de certa forma mais típica, com detetive particular e tudo. No caso, uma detetive, rosa Alvallay, contratada pelo reitor da universidade local para encontrar sua mulher, a escritora Carmen Ávila, que desapareceu. Apesar de seguir as convenções do gênero – pistas verdadeiras e falsas, marido como suspeito, etc –, o romance também lança um olhar sobre o meio editorial e sobre as mulheres.
Da norte-americana Alex Kava (cujo verdadeiro nome é Sharon, tendo adotado “Alex” para seus livros), já li Pecados Mortais e O Caçador de Almas, ambos publicados pela Harlequin (400 e 446 págs., respectivamente). No primeiro, que também foi seu romance de estreia, temos um homem que revela um segredo para um padre antes de ser executado pela morte de três meninos. Meses depois, um novo crime acontece – seria o homem executado inocente? Uma agente do FBI, Maggie O’Dell, entra em cena para resolver o caso. No segundo livro, a mesma agente se vê às voltas com dois casos ao mesmo tempo, o assassinato da filha de um senador e o suicídio de um grupo de jovens, e percebe que ambos podem estar ligados.
E já que estamos nos EUA, vamos falar de Tess Gerritsen. Posso dizer que a ex-médica sino-americana é uma de minhas autoras policiais preferidas (depois de Agatha Christie, é óbvio), com tramas elaboradas e bem escritas. Ela tem uma dupla de personagens principais, a detetive Jane Rizzoli e a legista Maura Isles, que ganharam até uma série de TV, Rizzoli & Isles (embora a versão televisiva tenha um viés um tanto quanto cômico, que não vejo nos livros). Um ponto interessante é que, afora os crimes que Jane e Maura investigam, ambas as personagens têm uma linha que segue de livro a livro; mesmo sendo possível entender cada história em separado, por vezes há referências a acontecimentos de obras anteriores. Para sugerir apenas alguns livros: O Cirurgião (Best Bolso, 336 págs.), O Pecador (Best Bolso, 304 págs.), O Clube Mefisto (Best Bolso, 334 págs.), A Última Vítima (Record, 368 págs.), Relíquias (Record, 352 págs.), O Jardim dos Ossos (Record, 448 págs.) e Corrente Sanguínea (Record, 416 págs.) – os dois últimos são com outras personagens.
Para encerrar por hoje, três livros de Robert Galbraith. Talvez você estranhe e pergunte o que um nome masculino está fazendo em um post sobre escritoras mulheres, então, vale esclarecer para os desavisados: esse é o pseudônimo que J.K. Rowling – sim, ela mesma, a autora de Harry Potter – usou para publicar seus romances policiais. Quando o primeiro, The Cuckoo’s Calling (O Chamado do Cuco, em português) foi lançado, em 2013, teve sucesso moderado, até estourar quando a real autoria foi descoberta (na minha edição, a “orelha” da sobrecapa já fala de Rowling). Dito isso, tanto o primeiro livro quanto os seguintes, O Bicho-da-Seda (Rocco, 464 págs.) e Vocação para o Mal (Rocco, 494 págs.), são estrelados por um detetive durão, o veterano de guerra Cormoran Strike, que vai dividir os holofotes com sua assistente, Robin Ellacott. Juntos, eles investigam a morte de uma supermodelo, o desaparecimento de um romancista e outros crimes. Há um quarto livro, que eu ainda não li, e o quinto da série está previsto para sair no próximo dia 15.
Bom, por hoje era isso. Continuo amanhã, com autoras cujas obras policiais têm um perfil mais de suspense psicológico.
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